Nadadora Edênia Garcia é a brasileira com mais participações em Paraolimpíadas
Ela enfrentou grandes desafios antes de se tornar a única representante da delegação brasileira a atingir a marca de seis participações na história da competição
A nadadora cearense Edênia Garcia, que tem 37 anos, participa de Paraolimpíadas há 20 anos. Ela foi medalhista de prata nos 50m costas logo na sua primeira participação, em Atenas 2004. Desde então, a paratleta esteve em todas as quatro edições do megaevento, indo também para Pequim 2008, Londres 2012, Rio de Janeiro 2016 e Tóquio 2020. Com isso, a esportista subiu ao pódio competindo na mesma prova em que obteve sua medalha na Grécia mais duas vezes. Na China terminou a disputa com o bronze e na Inglaterra voltou a conquistar uma prata.
Mesmo com tantas participações no currículo, a ida para a competição que se inicia dia 28 de agosto, foi especial para a paratleta. Edênia contou ter enfrentado grandes desafios para conquistar sua vaga e se tornar a única representante da delegação brasileira presente na França a atingir a marca de seis participações na história da competição.
“Foi uma convocação muito esperada, mas talvez a mais difícil de todas. Porque foi preciso alcançar um índice técnico para estar nos Jogos no mês de maio e eu estava nadando muito próxima a ele nesse período de obtenção de marcas, o que era arriscado. Além disso, a pandemia de coronavírus me fez desenvolver uma fobia social que afetou parte do ciclo de Paris. Tive de enfrentar meus maiores fantasmas. Em algumas competições muito fortes, eu sentia meu coração acelerar e ficava com muito medo. Precisei dar alguns passos para trás, tratar com ajuda da psicologia para me entender melhor. Passei a dar muito mais importância a conseguir unir o corpo e a mente e minhas marcas já estão melhores novamente”, contou a nadadora.
Segundo ela, a determinação para seguir nas piscinas veio da convicção de que ainda tem potencial de nadar bem e conseguir bons resultados. “Eu sabia que eu poderia estar em Paris. Não encaro como um desafio. Penso que a natação é algo natural para mim e também é um tratamento para minha condição física. Faço o que eu amo, trabalho com o que mais gosto e ainda estou cuidando da minha qualidade de vida”, afirmou a nadadora, que nasceu com doença de Charcot-Marie-Tooth, condição degenerativa que afetou os movimentos dos seus membros inferiores.
Conquistada a vaga para seguir na Seleção Brasileira, Edênia afirmou que chegará em Paris com expectativa de conseguir um pódio em sua prova favorita, os 50m costas, na classe S3 (comprometimento físico-motor). “Acredito que eu possa brigar por uma medalha de prata, porque minhas adversárias têm tempos que eu já fiz. Mas o principal é nadar bem. Porque eu não busco só minha medalha. Represento toda uma comunidade de pessoas com deficiência, de mulheres com deficiência. Caio na piscina representando uma causa e muitas pessoas”, disse a paratleta, que também irá nadar os 100m livre na capital francesa.
Na sua avaliação, a principal transformação ocorrida no Movimento Paraolímpico nos últimos 20 anos foi o desenvolvimento técnico dos atletas, brasileiros e estrangeiros. “Temos um critério técnico muito rigoroso para chegar aos Jogos Paraolímpicos. Isso garante que a Seleção irá levar os melhores atletas que a gente tem. Ao mesmo tempo, o Movimento Paraolímpico continuou disseminando mensagens de empoderamento, inclusão, identidade e acolhimento. Conseguimos manter esse legado ao longo de todos esses anos”, afirmou.
Edênia contou que o momento mais especial em sua trajetória nos Jogos até aqui foi a conquista da medalha de prata nos 50m costas em Londres 2012. “Eu fui reclassificada no início dos Jogos para a classe S5, o que me faria competir com nadadoras com limitações menores que a minha e isso acabaria com minhas chances de medalha. O Brasil protestou, pediu uma reavaliação, e, horas depois, cancelaram minha reclassificação e cheguei ao pódio. Ali foi uma emoção muito grande. Consegui manter o foco apesar de ter chorado muito antes da prova e nadei muito bem, vivendo uma situação estressante”, contou.
Mesmo depois de tantas disputas, a cearense afirma que não ter planos definidos sobre até quando competir nem descarta uma convocação para mais edições de Jogos no futuro. “Se eu seguir bem, vou continuar. Vou sentir meu corpo e, se eu estiver feliz na piscina, posso ir aos Jogos novamente. É preciso estar feliz, ou não se nada rápido.
De Pequim a Paris
Além de Edênia, que embarca para sua sexta edição de Jogos, a delegação brasileira conta com atletas veteranos que, em Paris, chegarão a sua quinta edição do megaevento.
Um dos veteranos, o pernambucano Phelipe Rodrigues, também é atleta da natação, da classe S10 (comprometimento físico-motor). O nadador irá competir com 34 anos, após já ter participado de quatro edições dos Jogos. Conquistou o bronze nos 50m livre nos Jogos Paraolímpicos de Tóquio 2020; prata nos 50m livre, no revezamento 4x100m livre, bronze nos 100m livre e no revezamento 4x100m medley nos Jogos do Rio 2016; prata nos 100m livre nos Jogos de Londres 2012; e prata nos 50m livre e nos 100m livre dos Jogos de Pequim 2008.
No atletismo, a Seleção contará com a acreana Jerusa Geber, de 42 anos, da classe T11 (deficiência visual), que também vai para a sua quinta edição. Ela chega ao megaevento após já ter conquistado medalhas de bronze nos 200m nos Jogos Paraolímpicos de Tóquio 2020; prata nos 100m e nos 200m nos Jogos Paraolímpicos Londres 2012; e bronze nos 100m nos Jogos de Pequim 2008. Não subiu ao pódio somente no Rio-2016.
No futebol de cegos, o Brasil conta com dois tetracampeões, que fazem parte da equipe principal desde Pequim 2008: o gaúcho Ricardo Alves, 35, o Ricardinho, e o baiano Jefferson Gonçalves, 34, o Jefinho.
No goalball, o potiguar Romário Marques, 35, também chegará a sua quinta participação nos Jogos, acumulando uma medalha de prata em Londres 2012, um bronze no Rio 2016 e o ouro de Tóquio 2020, ficando fora do pódio somente em Pequim 2008.
Com informações do Comitê Paralímpico Brasileiro
Foto: Alessandra Cabral/CPB